Memória poética - Fernando Pessoa
Fernando Pessoa, porque cada dia a gente descobre outro poema lindo dele (inesgotável), meio confuso sobre lembrar e não lembrar:
Contra lembrar:
"Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à natureza,
Porque a natureza de ontem não é natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!"
A favor de lembrar:
"Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia".
_________________
De um lado ou outro do argumento, sempre belos poemas. Não é uma contradição e nem problema de identidade: o poeta, na minha modesta opinião, não precisa ser esse ou aquele, já que pode ser o que quiser com esse talento que tem.
Contra lembrar:
"Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à natureza,
Porque a natureza de ontem não é natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!"
A favor de lembrar:
"Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia".
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De um lado ou outro do argumento, sempre belos poemas. Não é uma contradição e nem problema de identidade: o poeta, na minha modesta opinião, não precisa ser esse ou aquele, já que pode ser o que quiser com esse talento que tem.
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