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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"Mas que queremos da vida? É a vida? O que se procura em cada segundo para se perder em cada segundo? O tempo, assim, de nada nos serve. Um dia, dando por nós próprios, perguntamo-nos o que fizemos, por onde andámos, que cidade e casas percorremos, sem que uma resposta nos satisfaça. A vida, então, limita-se a ser o que fez de nós, sem que o tenhamos desejado, e nada pode ser feito para voltar atrás, nem para restituir os passos trocado de direcção, as frases evitadas no último 

extremo, o olhar que se desviou quando não devia. Ah, sim – o amor? É isso
que queremos da vida? É verdade: cada um dos abraços que se deram, contando cada instante; o rosto lembrado no auge do prazer, quando um súbito sol desponta
dos seus lábios; os cabelos presos nas mãos, como se elas prendessem o feixe
da eternidade... Assim, a vida poderá ter valido a pena. É o que fica: o que 
nos foi dado e o que damos, sem que nada nos obrigasse a dar ou a receber; o puro
gesto do acaso na mais absoluta das obrigações. Então, volto a perguntar: que
outra coisa queremos da vida?"

Nuno Júdice (2001)
Cartografia das Emoções

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